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A PASSAGEM PELO MURO DE ORUM - Marina Wisnik

 

 

ORUM: espaço infinito, mundo dos espíritos, separado pelo negativo de si mesmo. Sua palavra ao contrário pode ser lida como MURO – essa camada sólida ou tênue que separa vida e morte, céu e terra.

 

Trabalhando com branco e preto, com a luz que incide sobre a escuridão e a revela, assim como com seu movimento contrário, Alice Freire reúne trabalhos aparentemente distintos uns dos outros, que, juntos, formam uma espécie de constelação de elaboração sensível acerca de temas como o tempo, a transmutação, a permanência, a fugacidade. A vida. A morte.


Pedras expostas na solidez de seu tempo condensado, materiais em formação, cristais com brilhos côncavos sobre si, revelados. Estrelas que explodem contidas em um livro caixa-preta. Conchas casulo. Folhas da mata à beira do fluxo de um rio...


O tempo que segue em frente e se volta sobre si mesmo. A gestação da matéria nova. 


Através de páginas folheadas de um pequeno livro ou de grandes páginas em sequência de um longo e delicado desenho, utilizando a matéria densa e bruta de pedras partidas ou moldando com cerâmica o formato natural de uma concha, Alice trabalha com densidade e leveza, brilho e escuridão, explosão e recolhimento. Fluxo.


O branco atravessa o escuro, como uma passagem. A claridade não se contém em si e explode como uma supernova: evento característico no estágio final de evolução de algumas estrelas, onde essas, antes de desaparecer e atravessar para ORUM, se expandem com enorme potência e brilho, espalhando-se em muitos pedaços, transmutando-se.


Assim, em ORUM de Alice o muro é transpassado pela luz em potência que não pode mais reter. O fim é o começo. Do escuro mais profundo brota a luz mais brilhante e vice-versa. Preto e branco alternam-se no tempo. No instante. No eterno.

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